Segundo Kaldor a indústria é o motor de crescimento de longo-prazo em
função de quatro características fundamentais do setor industrial, a saber: i)
presença de retornos crescentes de escala; ii) os efeitos de encadeamento para
a frente e para trás na cadeia produtiva; iii) receptor e difusor do progresso
tecnológico e iv) maior elasticidade renda das exportações. (OREIRO, J;
MARCONI, N; 2014).
Diferentemente do que muitos economistas apontam, a desindustrialização brasileira não é um desdobramento do processo de desenvolvimento. Existem casos, de muitos países europeus em que a desindustrialização pode ser vista como um fenômeno natural, pois a medida que esses países aumentaram consistentemente a renda per capita, a elasticidade renda da demanda por bens industrializados caiu, o que levou a uma redução da demanda pelos produtos industriais.
Diferentemente do que muitos economistas apontam, a desindustrialização brasileira não é um desdobramento do processo de desenvolvimento. Existem casos, de muitos países europeus em que a desindustrialização pode ser vista como um fenômeno natural, pois a medida que esses países aumentaram consistentemente a renda per capita, a elasticidade renda da demanda por bens industrializados caiu, o que levou a uma redução da demanda pelos produtos industriais.
No
caso brasileiro, a desindustrialização não é consequência natural do
processo de desenvolvimento, pelo contrário é uma desindustrialização precoce
com perda relativa do emprego
e do valor adicionado da indústria, sendo acompanhada por um forte crescimento
do setor de serviços não sofisticados
.
.
Sendo a doença holandesa um fator importante para explicar a desindustrialização
brasileira, segundo Bresser:
A doença holandesa
é a sobreapreciação permanente da taxa de câmbio de um país resultante da
existência de recursos naturais abundantes e baratos (ou de mão-de-obra barata
combinada com um diferencial de salários elevado) que garantem rendas
ricardianas aos países que os possuem e exportam as commodities com eles
produzidos. Essa sobreapreciação decorre do fato que sua exportação dessas
commodities é compatível com uma taxa de câmbio mais valorizada do que seria
necessário para tornar competitivas empresas de outros setores de bens
comercializáveis mesmo que elas utilizem tecnologia no estado da arte mundial.
(Bresser, Oreiro e Marconi; Structuralist Development Macroeconomics, Londres:
Routledge,)
Nota-se que, a doença holandesa pode ser medida pela diferença entre a
taxa de câmbio de equilíbrio em transações correntes e a taxa de câmbio de
equilíbrio da indústria sendo no longo prazo prejudicial ao país, pois
inviabiliza a industrialização ou, mais amplamente, impede a transferência de
mão de obra para setores com valor adicionado per capita – transferência essa
que é principal origem do aumento da produtividade e do desenvolvimento
econômico.
Como
solução, os novos desenvolvimentistas sugerem que o país deve seguir um padrão “profit-led”,
em que o agregado macroeconômico câmbio real é fundamental para a retomada da
indústria. Segundo Araújo e Gala (2012), uma desvalorização significativa da
taxa de câmbio real aumentaria a lucratividade dos investimentos, levando a
maior acumulação de capital, poupança, exportações e maior nível de demanda
agregada e, assim, conduzindo a economia brasileira a um modelo de crescimento
liderado por mais investimento e menos consumo e menos problemas de balanço de
pagamentos, ou seja, um modelo de crescimento export-led/profit-led.
Uma
vez que o modelo de crescimento brasileiro entre 2003 e 2010 se caracteriza
como “wage-led” com uso de:
·
Política fiscal expansionista;
·
Transferências sociais;
·
Política de aumento do salário mínimo;
·
Altos gastos com habitação;
·
Política ativa de crédito por meio do
Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), financiando e subsidiando o
investimento privado e taxas menores de empréstimos;
·
Incentivo ao crédito por meio dos bancos
públicos comerciais (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) que aumentaram
a oferta de crédito para moradia e agricultura;
Dito
isso, observa-se que:
“Essas
políticas foram efetivas na redução dos índices de pobreza, desigualdade de
renda e desemprego e no aumento da massa salarial na participação da renda. A
recuperação da crise de 2008 foi muito rápida, à medida que o governo expandiu
o investimento público e as políticas de crédito, mantendo os programas sociais.
” (CARVALHO, RUGISTKY; 2010)
Dentre
as políticas supracitadas a que mais merece a atenção é a política salarial,
pois permitiu o aumento do salário mínimo acima da inflação, dada a regra de
reajuste do salário mínimo implantada em 2007, prevendo o reajuste, conforme a
variação da inflação (índice INPC) no ano anterior mais o crescimento
verificado do PIB de dois anos antes.
Assim, o salário mínimo cresceu muito acima da inflação desde os anos 2000, como segue no gráfico abaixo:
Assim, o salário mínimo cresceu muito acima da inflação desde os anos 2000, como segue no gráfico abaixo:
Figura 1- Evolução do salário real (1999-2013)
Elaboração própria; Fonte: IPEA DADOS 1 - Evolução do salário real (1998-2013)
Outro
elemento importante do crescimento dos últimos anos foi a evolução do crédito,
que permitiu a expansão do consumo, aumento do PIB e a inclusão social e
econômica de grande parcela da população na classe C e D, em contrapartida tal
medida colaborou para elevação de alavancagem das famílias e empresas.
Figura 2- Evolução do crédito total (2000-2010)
Figura 2- Evolução do crédito total (2000-2010)
Elaboração própria; Fonte: IPEA DADOS
Do ponto de vista macroeconômico: Observa-se
que pelo lado da oferta agregada, a participação de serviços não sofisticados,
ou seja, empregos que não requerem mão de obra qualificada e com baixa
produtividade, sendo que muitos bens vendidos internamente foram provenientes
da Ásia, culminando em um grande déficit na balança comercial que foi
compensado pelo boom das commodities e entrada de capitais externos permitindo
o financiamento do saldo do balanço de pagamentos. Logo, conclui-se que o
Brasil, apesar de ter crescimento não teve ganho de produtividade e acarretou
em elevado grau de endividamento comprometendo o consumo futuro. Os grandes
projetos desenvolvidos no Brasil foram em grande parte relacionado ao setor de
construção civil, varejo, setores que caracterizados
por inovações incrementais e não inovações relevantes uma vez que, não existem
economias de escala relevantes comparadas aos setores de manufaturas e serviços
sofisticados.
Além disso, o padrão de crescimento brasileiro durante 2003 e
2010 agravou a desindustrialização brasileira. Portanto, no longo prazo, vislumbrou-se
queda do investimento e déficits recorrentes no balanço de pagamento com
reprimarização da pauta exportadora com uma estrutura voltada para a produção
de bens com vantagens comparativas. Observa-se, evidentemente, na seguinte tabela a reprimarização da pauta
exportadora brasileira, quando se compara os anos de 2000 e 2010.
Pauta Exportadora (Brasil, China,
Rússia e Índia)
Structure of Exports
|
2000
|
2010
|
|
Brazil
|
Primary
products
|
24%
|
44%
|
Brazil
|
Manufacturing
based on natural resources
|
24%
|
22%
|
Brazil
|
Manufacturing - low tech
|
12%
|
7%
|
Brazil
|
Manufacturing - medium tech
|
25%
|
|
Brazil
|
Manufacturing - high tech
|
12%
|
7%
|
Brazil
|
Others
|
3%
|
3%
|
Brazil
|
Total
|
100%
|
100%
|
China
|
Primary products
|
6%
|
2%
|
China
|
Manufacturing
based on natural resources
|
10%
|
9%
|
China
|
Manufacturing - low tech
|
41%
|
29%
|
China
|
Manufacturing - medium tech
|
20%
|
25%
|
China
|
Manufacturing - high tech
|
22%
|
35%
|
China
|
Others
|
1%
|
1%
|
China
|
Total
|
100%
|
100%
|
India
|
Primary products
|
14%
|
12%
|
India
|
Manufacturing
based on natural resources
|
28%
|
32%
|
India
|
Manufacturing - low tech
|
39%
|
25%
|
India
|
Manufacturing - medium tech
|
11%
|
17%
|
India
|
Manufacturing - high tech
|
5%
|
10%
|
India
|
Others
|
2%
|
4%
|
India
|
Total
|
100%
|
100%
|
Russian
|
Primary products
|
41%
|
50%
|
Russian
|
Manufacturing
based on natural resources
|
26%
|
27%
|
Russian
|
Manufacturing - low tech
|
5%
|
2%
|
Russian
|
Manufacturing - medium tech
|
12%
|
8%
|
Russian
|
Manufacturing - high tech
|
4%
|
2%
|
Russian
|
Others
|
12%
|
10%
|
Russian
|
Total
|
100%
|
100%
|
Tabela 1 - Comparação da estrutura das exportações ( Brasil;China;India;China)
Elaboração: JG
PALMA – Fonte: UN COMTRADE DATABASE
BIBLIOGRAFIA:
OREIRO,
J; MARCONI, N (2014); “Teses Equivocadas
no Debate sobre Desindustrialização e Perda de Competitividade da Indústria
Brasileira”
BRESSER-PEREIRA, L.C; MARCONI, N; OREIRO; J (2013); “Doença holandesa” e “Neutralização da doença holandesa”, Capítulo
5 e 6 de Structuralist Development Macroeconomics. Londres: Routledge, a ser
publicado
BRESSER-PEREIRA, L. C.;
GALA, P. (2008). Foreign savings, insufficiency of demand, and low
growth. Journal of Post
Keynesian Economics,
CARVALHO, L; RUGISTKY, F (2015); Growth and distribution in Brazil the 21st century: revisiting the
wage-led versus profit-led debate
ALDERIR, J.S (2016); O Crescimento e a desaceleração da economia
brasileira (2003-2014) na perspectiva dos regimes de demanda neokaleckianos. Revista
Da Sociedade Brasileira De Economia Política.
PALMA, J. G. (2012). Was
Brazil's recent growth acceleration the world's most overrated boom? https://doi.org/10.17863/CAM.5227
ARAÚJO,
E; GALA, P (2012); Regimes de
crescimento econômico no Brasil: evidências empíricas e implicações de política.
Gala, P (2016); “Política
industrial para o século XXI” (blog)
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