quinta-feira, 16 de março de 2017

O ensino da Constituição nas escolas é fundamental para o real e efetivo exercício da democracia pelas futuras gerações

A Constituição Federal Brasileira no que se refere aos Direitos Políticos, mais especificamente em seu artigo 14, parágrafo 1º, inciso II, alínea “C”, consagra a faculdade aos maiores de 16 anos e menores de 18 anos, de participarem ativamente do exercício da soberania popular, pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. 

Ok... Mas o que isso significa?
Significa que ao completar 16 anos - ainda em idade escolar - o jovem cidadão brasileiro tem a faculdade de obter o seu título de eleitor, de maneira antecipada à obrigatoriedade para os maiores de 18 anos -  prevista artigo 14, parágrafo 1º, inciso I da Constituição Federal -, para participar do processo de escolha de seus representantes em todos os entes federativos, assim como todos os outros cidadãos, bem como para participar de plebiscitos, referendos e projetos de iniciativa popular.  
 Mas como o jovem cidadão vem sendo preparado para isso hoje?
 O Art. 205 da nossa Constituição consagra que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.        
Ocorre que aqui reside o principal problema. Não há mínima preparação para o exercício da cidadania na educação básica brasileira, salvo raríssimas exceções.   Inicialmente é possibilitada ao jovem cidadão a faculdade de participar de maneira ativa em diversos assuntos importantes da sociedade através do voto. Mais tarde, a sua participação no exercício da soberania popular é obrigatória, mas sem que lhe tenha sido ensinado no ambiente escolar os seus direitos sociais, as suas garantias fundamentais, a importância do voto e os seus impactos, a organização do Estado, dos poderes, as atribuições de seus representantes democraticamente eleitos, o processo legislativo, os seus deveres, as obrigações, etc.
 Cabe aqui a seguinte reflexão: O que nesse cenário se coaduna com o dever do Estado, conforme previsão constitucional, em preparar o jovem para o exercício da cidadania?

Preocupante! E o que esse cenário acarreta?
Sem a mínima e necessária formação cívica o exercício da soberania, da escolha e consequentes fiscalização e cobrança dos “representantes da vontade popular” ocorre de maneira demasiadamente precária, insatisfatória e pouco efetiva frente a realidade fática dos problemas sociais e do cenário político brasileiro.
Via de regra, o cidadão não conhece o funcionamento do sistema, o processo legislativo para a criação de leis e emendas constitucionais, os seus direitos sociais, as responsabilidades, deveres, atribuições e diferença entre os cargos de Presidente, Senador, Governador, Deputado, Prefeito e Vereador, de forma a não conseguir cobrar de maneira efetiva a cada um por suas responsabilidades e permitir que tenhamos administradores públicos pouco engajados em respeitar a coisa pública, a moralidade administrativa e o seu eleitorado.
Nesse cenário caótico, é fato corriqueiro no nosso cotidiano os escândalos de corrupção, o descrédito das instituições e a constatação de uma administração pública demasiadamente ineficiente no nosso País. Tais fatos já são diários e em certa medida tratados com normalidade/passividade.  

Por que é necessário o ensino da constituição nas escolas?
 A conscientização social, econômica e política dos jovens cidadãos deve ser parte elementar das diretrizes basilares do ensino. Acompanhada de uma grade curricular mais ampla, contemporânea e de maior qualidade, são os mecanismos mais importantes e efetivos de inclusão social, de redução das desigualdades, da criminalidade, da consagração da ordem e do progresso, do respeito a coisa pública e do real e efetivo exercício da democracia em terrae brasilis.  
Compreender a organização do Estado, dos poderes, o processo legislativo, bem como os direitos e garantias dos indivíduos no País que residimos não é só essencial para a formação cívica do estudante, como também é o alicerce para a criação de um sentimento de poder e de responsabilidade pelo status quo e pelas reformas que o País necessita.

Com essa conscientização e maior qualificação dos cidadãos, a maior qualidade, moralidade e eficiência do cenário político nacional sem dúvida prosperará! É necessário sabermos o que podemos pleitear, para quem podemos pleitear, como pleitear, como o pedido vai ser processado, e o que devemos fazer caso ele não seja atendido!

Por óbvio, não será aplicado temas complexos e de alto aprofundamento teórico do Direito Constitucional. É evidente que alunos do ensino médio não estarão aptos a aprender questões que versam sobre “força normativa da constituição”, Sistema de “checks and balances” “Classificação das constituições” etc.

É necessária a explicação sobre o funcionamento do sistema de maneira geral e a importância e impactos do voto dentro desse cenário, com a finalidade de explicitar o funcionamento da sociedade a qual vivemos e criar um sentimento de pertencimento, questionamento e responsabilidade pela administração do País.

É possível esperar que essa ideia seja aplicada no país? 
O art. 205 da Constituição Federal preconiza a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

O preparo para o exercício da cidadania é previsto constitucionalmente, mas não faz parte do ambiente escolar brasileiro de maneira adequada.

No dia 03 de março de 2015, o Senador Romário (PSB – RJ), apresentou o PLS 70/2015, que altera a Lei de Diretrizes e bases no que tange o currículo escolar obrigatório, adicionado assim, a disciplina de estudo à constituição e ECA, o Estatuto da criança e do adolescente.  Como justificativa ao projeto, o Senador explica que:

A promulgação da Constituição Federal de 1988, que completou 25 anos este ano, foi o grande marco da restauração da democracia no Brasil e a renovação do orgulho cívico no país. Foi a maior movimentação política de várias classes sociais, sindicais e das minorias já registrado na história da nação brasileira, marcada pela conquista de direitos individuais e a liberdade de expressão. O objetivo deste projeto de lei é expandir a noção cívica dos nossos estudantes, ensinando-lhes sobre seus direitos constitucionais, como cidadão e futuro eleitor, e, em contrapartida, aprenderem sobre seus deveres. Ao completar 16 (dezesseis) anos o jovem brasileiro tem a faculdade de tirar seu título de eleitor e exercer seu direito de cidadão, que é escolher seu representante político através do voto, iniciando sua participação ativa nos assuntos da sociedade. Esses jovens estudantes já têm uma base educacional sólida ao cursar o ensino médio para compreender a importância de ser um cidadão consciente e as consequências geradas à gestão pública ao escolher um candidato despreparado ou ficha suja. Especialmente após as manifestações de junho deste ano, tornou-se necessária maior atenção aos nossos jovens, quase adultos, que nos remetem à lembrança dos caras pintadas de outrora.”

Ainda em 2015 o projeto foi aprovado em decisão terminativa no Senado e remetido à Câmara dos Deputados para ser apreciado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e, se aprovado, virar lei e uma realidade para as escolas públicas.

Na Câmara dos Deputados o Projeto recebeu o número PL 3380/2015 e foi designado como relator o Deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). Ocorre que desde a designação do relator na Câmara em janeiro de 2016, mais de um ano atrás, o projeto de lei não teve mais qualquer andamento. 

O que podemos fazer para que o projeto seja transformado em lei?

Podemos acompanhar o trâmite do Projeto de lei através do link abaixo: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2024319

E no próprio site da Câmara dos Deputados, através do link abaixo é possível o acesso ao e-mail, telefones do gabinete e escritório do Deputado em seu Estado, para que pedirmos celeridade, enviarmos sugestões, explicações e críticas ao Relator do projeto e outros Deputados Federais sobre esse e outros assuntos.

Aos que concordam com o conteúdo abordado e a necessidade do ensino da constituição nas escolas, por gentileza, vamos juntos entrar em contato com o relator do projeto e demais deputados para cobrar e fazer esse projeto de lei virar realidade.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Nossa educação foi reprovada

Um tópico que sempre vem à tona nos debates sobre a atual sociedade brasileira é a qualidade da educação. Pode-se dizer que há consenso em torno dos seguintes pontos: formação precária dos estudantes, mão-de-obra pouco qualificada e até aspectos mais simples como a formação de um cidadão. A educação necessita de reformas e é nesse ponto que acaba o consenso, havendo uma grande dificuldade em se propor um projeto para superar essas dificuldades, como foi evidenciado no debate em torno da reforma do Ensino Médio aprovada no início deste ano. As soluções costumam se pautar em maior aporte de recursos e muito pouco é discutido concretamente como projeto. Pretendemos com este texto apresentar algumas direções para um possível projeto, sem pretensão alguma de esgotar o tema ou propor soluções finais.

Em primeiro lugar, é importante entender os resultados do modelo educacional atual, “conteudista” preparatório para vestibular e rígido, na formação da nossa população. É de conhecimento geral o mau desempenho de nossos alunos em avaliações internacionais de educação como o PISA, o que demonstra uma incapacidade de transmitir esses conhecimentos mesmo com uma carga curricular extensa. Esse problema não se limita apenas às escolas públicas, havendo uma sensação generalizada de falta de propósito do conteúdo ensinado também entre alunos de escolas particulares. O ensino básico é visto apenas como um meio de entrada no ensino superior, ou seja, toda sua formação visa preparar o aluno para o vestibular. São deixadas de lado questões como a formação do cidadão e a transmissão de conhecimento básico e mais duradouro que possa auxiliar o aluno a aprender novos conteúdos ao longo da vida tendo uma base forte. Devido ao vestibular, as escolas são julgadas inteiramente de acordo com essa métrica. Uma escola é de bom nível se tem um grande índice de aprovação.

A falta de um conhecimento de base forte pode ser visto de maneira fácil na vida adulta: se o aluno dedicasse mais tempo em aprender conceitos básicos da matemática, multiplicação, divisão, adição e subtração, em vez de ver conceitos muito avançados como polinômios de ordem elevada, este poderia na faculdade aprender mais facilmente o conceito de cálculo. É notório nas provas de cálculo que a maioria dos alunos erra mais conceitos de álgebra simples do que a parte teórica do cálculo. Não é possível ensinar algo avançado se esse não sabe o básico, a escola atropela a velocidade do conhecimento. Tão ruim quanto isso é o fato de alguns alunos nunca mais precisarem ver em suas vidas polinômios, tornando o tempo gasto para “decorar” o conteúdo para ser aprovado um desperdício de tempo, e esse tempo poderia ser utilizado para assuntos mais relevantes e simples. Esse problema se permeia por todos os campos do conhecimento: biologia, história, português, etc.

Também é notável a baixa penetração do pensamento crítico e científico mesmo entre alunos que têm mais recursos e maior carga horária, o que se observa pela difusão de pseudociência e obscurantismo. Uma grade curricular mais enxuta, com maior ênfase em habilidades cruciais para a vida pessoal e profissional de qualquer cidadão, como operações matemáticas básicas, interpretação de texto, conhecimentos básicos de saúde e entendimento dos processos históricos que resultaram na sociedade atual, pode aproximar a educação do aluno e criar cidadãos mais preparados em vez de “máquinas de vestibular”. O vestibular deveria ser focado na capacidade de interpretação de texto e raciocínio lógico. Diversos RHs no mundo e também no Brasil já perceberam que esse antigo sistema é falho. Hoje, para participar dos melhores programas de estágio e trainee não é necessário conhecimento específico, é valorizado no candidato o potencial que ele pode atingir no futuro, afinal cada empresa tem um modo de operação, e este vai ser ensinado para o candidato após ele ser aprovado. Agora leia novamente o trecho desde "RHs" e substitua a palavra “RH” por “FUVEST”, “VUNESP”, etc, e “empresa” por “universidade”; Você pode perceber que seria uma boa maneira de reformular o vestibular.

Algumas considerações podem ser tiradas deste texto: precisamos enxugar o conteúdo a fim de aprimorar mais o aluno e capacitá-lo melhor, pois o atual modelo está enxugando gelo. O sistema deve ser mudado em vários níveis, e o vestibular deve ser reformulado e priorizar outro tipo de capacidade do estudante, e não sua memória pra decorar conteúdo. A escola deve, antes de tudo, formar um cidadão crítico e conhecedor da sociedade onde vive e fornecê-lo ferramentas para que possa adquirir conhecimento de maneira mais fácil e rápida.

Texto por Carlos Henrique Machado Simão e Tomás Pereira Machado

Sobre história, economia, ignorância e caos

O momento atual é fértil para um número infinito de opiniões de “especialistas” que supostamente são “certeiros” e sabem tudo sobre o que nos trouxe até aqui, bem como o que nos espera.
Mas atenção: A história não é determinista. Não pode ser prevista. É caótica!
Como disse, a história é um sistema caótico. Mas o que é um sistema caótico? Há dois tipos: o sistema caótico de nível 1 e o de nível 2. O de nível 1 é o caos que não reage à previsões. O de nível 2, reage.
Um exemplo de sistema caótico de nível 1 é a meteorologia. O clima pode ser explicado por uma série gigantesca de fatores, mas mesmo assim é possível criar modelos computadorizados que, apesar das dificuldades, levam em conta grande parte desses fatores, realizando previsões cada vez mais realistas. Mesmo assim erros de previsão são inevitáveis.
Já sistemas caóticos de nível 2 são aqueles em que o próprio caos reage às previsões que se faz sobre ele. É o caso da História, Economia e Política. Um exemplo: se nós desenvolvermos um programa que, supostamente, acerte qual será a taxa de câmbio de amanhã com 100% de exatidão, e esse programa nos diga que o Dólar que hoje vale 3,30 amanhã valerá 4,00, é certo supor que muitos correrão para comprar dólares ainda hoje; ou seja, o dólar acabará valendo 4 reais hoje mesmo, e não amanhã, como inicialmente previsto pelo programa.
Outro exemplo de sistema caótico é a política. Revoluções, por exemplo, não podem ser previstas — até porque se fossem, não irromperiam jamais. Quem, em 1913, seria capaz de apostar — racionalmente — que em 4 anos o pequeno grupo de bolcheviques dominaria o país e que em algumas décadas dominaria boa parte do mundo ?
Já deu para ficar claro o tamanho da nossa ignorância sobre o futuro, né? Então, cuidado com as certezas — são apenas chutes. Uns piores, outros melhores, mas apenas chutes.

quinta-feira, 9 de março de 2017

O Brasil está se desindustrializando - E isso não é nada bom

Segundo Kaldor a indústria é o motor de crescimento de longo-prazo em função de quatro características fundamentais do setor industrial, a saber: i) presença de retornos crescentes de escala; ii) os efeitos de encadeamento para a frente e para trás na cadeia produtiva; iii) receptor e difusor do progresso tecnológico e iv) maior elasticidade renda das exportações. (OREIRO, J; MARCONI, N; 2014). 
Diferentemente do que muitos economistas apontam, a desindustrialização brasileira não é um desdobramento do processo de desenvolvimento. Existem casos, de muitos países europeus em que a desindustrialização pode ser vista como um fenômeno natural, pois a medida que esses países aumentaram consistentemente a renda per capita, a elasticidade renda da demanda por bens industrializados caiu, o que levou a uma redução da demanda pelos produtos industriais.

No caso brasileiro, a desindustrialização não é consequência natural do processo de desenvolvimento, pelo contrário é uma desindustrialização precoce com perda relativa do emprego e do valor adicionado da indústria, sendo acompanhada por um forte crescimento do setor de serviços não sofisticados
.
Sendo a doença holandesa um fator importante para explicar a desindustrialização brasileira, segundo Bresser:
A doença holandesa é a sobreapreciação permanente da taxa de câmbio de um país resultante da existência de recursos naturais abundantes e baratos (ou de mão-de-obra barata combinada com um diferencial de salários elevado) que garantem rendas ricardianas aos países que os possuem e exportam as commodities com eles produzidos. Essa sobreapreciação decorre do fato que sua exportação dessas commodities é compatível com uma taxa de câmbio mais valorizada do que seria necessário para tornar competitivas empresas de outros setores de bens comercializáveis mesmo que elas utilizem tecnologia no estado da arte mundial. (Bresser, Oreiro e Marconi; Structuralist Development Macroeconomics, Londres: Routledge,)

Nota-se que, a doença holandesa pode ser medida pela diferença entre a taxa de câmbio de equilíbrio em transações correntes e a taxa de câmbio de equilíbrio da indústria sendo no longo prazo prejudicial ao país, pois inviabiliza a industrialização ou, mais amplamente, impede a transferência de mão de obra para setores com valor adicionado per capita – transferência essa que é principal origem do aumento da produtividade e do desenvolvimento econômico.

Como solução, os novos desenvolvimentistas sugerem que o país deve seguir um padrão “profit-led”, em que o agregado macroeconômico câmbio real é fundamental para a retomada da indústria. Segundo Araújo e Gala (2012), uma desvalorização significativa da taxa de câmbio real aumentaria a lucratividade dos investimentos, levando a maior acumulação de capital, poupança, exportações e maior nível de demanda agregada e, assim, conduzindo a economia brasileira a um modelo de crescimento liderado por mais investimento e menos consumo e menos problemas de balanço de pagamentos, ou seja, um modelo de crescimento export-led/profit-led.
Uma vez que o modelo de crescimento brasileiro entre 2003 e 2010 se caracteriza como “wage-led” com uso de:

·         Política fiscal expansionista;
·         Transferências sociais;
·         Política de aumento do salário mínimo;
·         Altos gastos com habitação;
·         Política ativa de crédito por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), financiando e subsidiando o investimento privado e taxas menores de empréstimos;
·         Incentivo ao crédito por meio dos bancos públicos comerciais (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) que aumentaram a oferta de crédito para moradia e agricultura;
Dito isso, observa-se que:

“Essas políticas foram efetivas na redução dos índices de pobreza, desigualdade de renda e desemprego e no aumento da massa salarial na participação da renda. A recuperação da crise de 2008 foi muito rápida, à medida que o governo expandiu o investimento público e as políticas de crédito, mantendo os programas sociais. ” (CARVALHO, RUGISTKY; 2010)

Dentre as políticas supracitadas a que mais merece a atenção é a política salarial, pois permitiu o aumento do salário mínimo acima da inflação, dada a regra de reajuste do salário mínimo implantada em 2007, prevendo o reajuste, conforme a variação da inflação (índice INPC) no ano anterior mais o crescimento verificado do PIB de dois anos antes.
Assim, o salário mínimo cresceu muito acima da inflação desde os anos 2000, como segue no gráfico abaixo:
Figura 1- Evolução do salário real (1999-2013)
Elaboração própria; Fonte: IPEA DADOS 1 - Evolução do salário real (1998-2013)

Outro elemento importante do crescimento dos últimos anos foi a evolução do crédito, que permitiu a expansão do consumo, aumento do PIB e a inclusão social e econômica de grande parcela da população na classe C e D, em contrapartida tal medida colaborou para elevação de alavancagem das famílias e empresas.

Figura 2- Evolução do crédito total (2000-2010)
Elaboração própria; Fonte: IPEA DADOS

 Do ponto de vista macroeconômico: Observa-se que pelo lado da oferta agregada, a participação de serviços não sofisticados, ou seja, empregos que não requerem mão de obra qualificada e com baixa produtividade, sendo que muitos bens vendidos internamente foram provenientes da Ásia, culminando em um grande déficit na balança comercial que foi compensado pelo boom das commodities e entrada de capitais externos permitindo o financiamento do saldo do balanço de pagamentos. Logo, conclui-se que o Brasil, apesar de ter crescimento não teve ganho de produtividade e acarretou em elevado grau de endividamento comprometendo o consumo futuro. Os grandes projetos desenvolvidos no Brasil foram em grande parte relacionado ao setor de construção civil, varejo, setores que caracterizados por inovações incrementais e não inovações relevantes uma vez que, não existem economias de escala relevantes comparadas aos setores de manufaturas e serviços sofisticados.

Além disso, o padrão de crescimento brasileiro durante 2003 e 2010 agravou a desindustrialização brasileira. Portanto, no longo prazo, vislumbrou-se queda do investimento e déficits recorrentes no balanço de pagamento com reprimarização da pauta exportadora com uma estrutura voltada para a produção de bens com vantagens comparativas. Observa-se, evidentemente, na seguinte tabela a reprimarização da pauta exportadora brasileira, quando se compara os anos de 2000 e 2010.

Pauta Exportadora (Brasil, China, Rússia e Índia)
Structure of Exports
2000
2010
Brazil
Primary products
24%
44%
Brazil
Manufacturing based on natural resources
24%
22%
Brazil
Manufacturing - low tech
12%
7%
Brazil
Manufacturing - medium tech
25%
17%
Brazil
Manufacturing - high tech
12%
7%
Brazil
Others
3%
3%
Brazil
Total
100%
100%
China
Primary products
6%
2%
China
Manufacturing based on natural resources
10%
9%
China
Manufacturing - low tech
41%
29%
China
Manufacturing - medium tech
20%
25%
China
Manufacturing - high tech
22%
35%
China
Others
1%
1%
China
Total
100%
100%
India
Primary products
14%
12%
India
Manufacturing based on natural resources
28%
32%
India
Manufacturing - low tech
39%
25%
India
Manufacturing - medium tech
11%
17%
India
Manufacturing - high tech
5%
10%
India
Others
2%
4%
India
Total
100%
100%
     Russian
Primary products
41%
50%
     Russian
Manufacturing based on natural resources
26%
27%
     Russian
Manufacturing - low tech
5%
2%
     Russian
Manufacturing - medium tech
12%
8%
     Russian
Manufacturing - high tech
4%
2%
     Russian
Others
12%
10%
     Russian
Total
100%
100%

Tabela 1 - Comparação da estrutura das exportações ( Brasil;China;India;China)
Elaboração: JG  PALMA – Fonte: UN COMTRADE DATABASE

BIBLIOGRAFIA:

OREIRO, J; MARCONI, N (2014); “Teses Equivocadas no Debate sobre Desindustrialização e Perda de Competitividade da Indústria Brasileira”
BRESSER-PEREIRA, L.C; MARCONI, N; OREIRO; J (2013); “Doença holandesa” e “Neutralização da doença holandesa”, Capítulo 5 e 6 de Structuralist Development Macroeconomics. Londres: Routledge, a ser publicado
BRESSER-PEREIRA, L. C.; GALA, P. (2008). Foreign savings, insufficiency of demand, and low growth. Journal of Post Keynesian Economics,
CARVALHO, L; RUGISTKY, F (2015); Growth and distribution in Brazil the 21st century: revisiting the wage-led versus profit-led debate
ALDERIR, J.S (2016); O Crescimento e a desaceleração da economia brasileira (2003-2014) na perspectiva dos regimes de demanda neokaleckianos. Revista Da Sociedade Brasileira De Economia Política.
PALMA, J. G. (2012). Was Brazil's recent growth acceleration the world's most overrated boom? https://doi.org/10.17863/CAM.5227
ARAÚJO, E; GALA, P (2012); Regimes de crescimento econômico no Brasil: evidências empíricas e implicações de política.

Gala, P (2016); “Política industrial para o século XXI” (blog)