quinta-feira, 2 de março de 2017

A montanha-russa do Planalto

Na última quarta (22), pela manhã, tudo parecia caminhar muito bem para o governo Temer. O plenário do Senado aprovava, por 55 a 13, o nome de Alexandre de Moraes para ocupar a vaga de Teori Zavascki no STF. Alvo de muitas especulações e protestos, a nomeação de Moraes foi mais uma vitória do Presidente, que teria um ministro de sua estrita confiança na Corte, o que será de grande utilidade para julgamentos vindouros.
                A aprovação de Moraes se juntava a uma série de boas notícias para o governo. O início da liberação de saques nas contas inativas de FGTS, o otimismo do mercado financeiro, com a BOVESPA atingindo patamares recordes e dólar em queda. Acompanhadas pela inflação abaixo do esperado, tanto em janeiro como em fevereiro. E, já na noite de quarta-feira, o COPOM anunciou a redução da taxa Selic para 12,25% (queda de 0,75%). A empolgação era tanta que Temer e o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, cravaram o fim da recessão e o início da retomada do crescimento.
                Porém, logo após a decisão do COPOM, a primeira bomba caiu no colo do governo. José Serra, Ministro das Relações Exteriores, entregava sua carta de demissão. Alegando problemas de saúde, Serra tornou-se uma baixa significativa para o governo Temer, tanto pela experiência política quanto pelas especulações de que aquilo poderia ser um movimento de desembarque do PSDB da base aliada. Para aplacar as especulações, o governo já soprou o nome de Aloysio Nunes, senador do PSDB-SP, como mais cotado à vaga.
                Já na quinta-feira pela manhã, a temida Operação Lava-Jato voltava à cena. Na 38ª fase, chamada Blackout, o foco eram dois operadores ligados a caciques do PMDB: Bruno e Jorge Luz. Por meio deles, mais de 40 milhões de dólares em propinas foram distribuídos a senadores peemedebistas, como Jader Barbalho e Renan Calheiros, segundo os investigadores. A nova fase mostrou que a Lava-Jato continua viva e a sangria ainda não foi estancada.
                No período da tarde, Temer parecia ter resolvido um problema ao indicar o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. A nomeação parecia agradar ao PMDB da Câmara e serviria para aparar as arestas, visando a crucial Reforma da Previdência. Porém, acabou enfurecendo o Vice-Presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), que esperava a indicação de alguém da bancada mineira. Ele rompeu com o governo e prometeu comandar uma rebelião de deputados do estado em votações de interesse governista.
                Para fechar a tampa antes da folia, já na quinta à noite a chamada de capa da Revista Veja tinha uma entrevista exclusiva com José Yunes, amigo de décadas e ex-assessor especial de Temer. Ele afirmava ter servido de “mula” para o ainda Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em 2014. Yunes repassou dinheiro sujo do doleiro Lucio Funaro para Padilha usar no financiamento de campanhas eleitorais do PMDB. O ministro encontra-se afastado, até o dia 06 de março, para uma cirurgia médica. Porém, já é dada como certa sua saída do governo em definitivo.
                Com a possível queda de Padilha, aumenta o isolamento de Temer no governo. Todos os amigos mais próximos já tiveram de deixar o governo: Romero Jucá, Henrique Alves e mais recentemente, Geddel Vieira Lima. Cada vez mais, o presidente depende da aliança com o PSDB para sobreviver no restante do mandato, que ainda pode guardar momentos de grande turbulência.
                A economia parece ser a válvula de escape para o Presidente. Já se sabe que a redução do desemprego deve ficar para 2018, porém é fundamental que a situação continue apresentando sinais de melhora e o mercado siga com confiança no governo. Para isso, é preciso que o governo entregue as reformas prometidas ao mercado. Teto dos gastos já foi, faltam as reformas da Previdência e Trababalhista. Para que sejam aprovadas, porém, o governo terá de contornar turbulências e dificuldades.
                A primeira turbulência está por conta da delação da Odebrecht. Não se sabe como o Congresso reagirá, após ter a maioria de seus componentes implicados na delação, nem como ficará a situação política do governo, dependendo do conteúdo que envolve o Presidente seus ministros. Outra turbulência é uma granada sem-pino presa em Curitiba: Eduardo Cunha. Caso o ex-deputado veja afundar suas chances de soltura via STF, é possível que feche um acordo de delação premiada e cause um novo maremoto no Congresso, Executivo e setores empresariais.
                A principal dificuldade é que, conforme 2017 avança, as eleições de 2018 ficam mais próximas, e os congressistas passam a fazer cálculos eleitorais. Nesse contexto, o deputado Paulinho da Força (SDD-SP) apresentou uma emenda que dinamita a reforma da Previdência, alterando questões fundamentais para o governo, como: idade mínima, acúmulo de benefícios e a regra de transição para aqueles que já estão contribuindo. A emenda de Paulinho teve apoio de outros 300 deputados, indicando que reformas muito impopulares não vão passar com facilidade, podendo até serem desfiguradas.
                Se o caldo da crise política entornar, a pressão sobre o TSE aumentará significativamente. Em condições normais, é possível que Gilmar mendes, presidente da Corte e aliado de Temer, segure o julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer o máximo possível. Mas, se o clima no Congresso azedar, o mercado perder a confiança na capacidade do governo e a impopularidade de Temer seguir em níveis elevados, vai ser impossível “matar no peito”, ainda mais com o relator da ação (Ministro Herman Benjamin) deixando claro que há indício e provas de irregularidades na chapa eleita em 2014.

                Por esses motivos, o governo Temer se parece com uma montanha-russa. Parece estar em ascensão, deixando a crise para trás e, de repente, já se vê mergulhando na crise novamente. Resta saber se esse novo mergulho na crise será passageiro, com um looping à frente ou será rumo ao chão, sem chances de voltar a subir.

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