Na última quarta (22), pela manhã, tudo parecia caminhar
muito bem para o governo Temer. O plenário do Senado aprovava, por 55 a 13, o
nome de Alexandre de Moraes para ocupar a vaga de Teori Zavascki no STF. Alvo
de muitas especulações e protestos, a nomeação de Moraes foi mais uma vitória
do Presidente, que teria um ministro de sua estrita confiança na Corte, o que
será de grande utilidade para julgamentos vindouros.
A
aprovação de Moraes se juntava a uma série de boas notícias para o governo. O
início da liberação de saques nas contas inativas de FGTS, o otimismo do
mercado financeiro, com a BOVESPA atingindo patamares recordes e dólar em
queda. Acompanhadas pela inflação abaixo do esperado, tanto em janeiro como em
fevereiro. E, já na noite de quarta-feira, o COPOM anunciou a redução da taxa
Selic para 12,25% (queda de 0,75%). A empolgação era tanta que Temer e o
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, cravaram o fim da recessão e o início
da retomada do crescimento.
Porém,
logo após a decisão do COPOM, a primeira bomba caiu no colo do governo. José
Serra, Ministro das Relações Exteriores, entregava sua carta de demissão.
Alegando problemas de saúde, Serra tornou-se uma baixa significativa para o
governo Temer, tanto pela experiência política quanto pelas especulações de que
aquilo poderia ser um movimento de desembarque do PSDB da base aliada. Para
aplacar as especulações, o governo já soprou o nome de Aloysio Nunes, senador
do PSDB-SP, como mais cotado à vaga.
Já na
quinta-feira pela manhã, a temida Operação Lava-Jato voltava à cena. Na 38ª
fase, chamada Blackout, o foco eram dois operadores ligados a caciques do PMDB:
Bruno e Jorge Luz. Por meio deles, mais de 40 milhões de dólares em propinas
foram distribuídos a senadores peemedebistas, como Jader Barbalho e Renan
Calheiros, segundo os investigadores. A nova fase mostrou que a Lava-Jato
continua viva e a sangria ainda não foi estancada.
No
período da tarde, Temer parecia ter resolvido um problema ao indicar o deputado
Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. A nomeação parecia
agradar ao PMDB da Câmara e serviria para aparar as arestas, visando a crucial
Reforma da Previdência. Porém, acabou enfurecendo o Vice-Presidente da Câmara,
Fábio Ramalho (PMDB-MG), que esperava a indicação de alguém da bancada mineira.
Ele rompeu com o governo e prometeu comandar uma rebelião de deputados do
estado em votações de interesse governista.
Para
fechar a tampa antes da folia, já na quinta à noite a chamada de capa da
Revista Veja tinha uma entrevista exclusiva com José Yunes, amigo de décadas e
ex-assessor especial de Temer. Ele afirmava ter servido de “mula” para o ainda
Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em 2014. Yunes repassou dinheiro sujo
do doleiro Lucio Funaro para Padilha usar no financiamento de campanhas
eleitorais do PMDB. O ministro encontra-se afastado, até o dia 06 de março,
para uma cirurgia médica. Porém, já é dada como certa sua saída do governo em
definitivo.
Com a
possível queda de Padilha, aumenta o isolamento de Temer no governo. Todos os
amigos mais próximos já tiveram de deixar o governo: Romero Jucá, Henrique
Alves e mais recentemente, Geddel Vieira Lima. Cada vez mais, o presidente
depende da aliança com o PSDB para sobreviver no restante do mandato, que ainda
pode guardar momentos de grande turbulência.
A
economia parece ser a válvula de escape para o Presidente. Já se sabe que a
redução do desemprego deve ficar para 2018, porém é fundamental que a situação continue
apresentando sinais de melhora e o mercado siga com confiança no governo. Para
isso, é preciso que o governo entregue as reformas prometidas ao mercado. Teto
dos gastos já foi, faltam as reformas da Previdência e Trababalhista. Para que
sejam aprovadas, porém, o governo terá de contornar turbulências e
dificuldades.
A
primeira turbulência está por conta da delação da Odebrecht. Não se sabe como o
Congresso reagirá, após ter a maioria de seus componentes implicados na
delação, nem como ficará a situação política do governo, dependendo do conteúdo
que envolve o Presidente seus ministros. Outra turbulência é uma granada
sem-pino presa em Curitiba: Eduardo Cunha. Caso o ex-deputado veja afundar suas
chances de soltura via STF, é possível que feche um acordo de delação premiada
e cause um novo maremoto no Congresso, Executivo e setores empresariais.
A
principal dificuldade é que, conforme 2017 avança, as eleições de 2018 ficam
mais próximas, e os congressistas passam a fazer cálculos eleitorais. Nesse contexto,
o deputado Paulinho da Força (SDD-SP) apresentou uma emenda que dinamita a
reforma da Previdência, alterando questões fundamentais para o governo, como:
idade mínima, acúmulo de benefícios e a regra de transição para aqueles que já
estão contribuindo. A emenda de Paulinho teve apoio de outros 300 deputados,
indicando que reformas muito impopulares não vão passar com facilidade, podendo
até serem desfiguradas.
Se o
caldo da crise política entornar, a pressão sobre o TSE aumentará
significativamente. Em condições normais, é possível que Gilmar mendes,
presidente da Corte e aliado de Temer, segure o julgamento da cassação da chapa
Dilma-Temer o máximo possível. Mas, se o clima no Congresso azedar, o mercado
perder a confiança na capacidade do governo e a impopularidade de Temer seguir
em níveis elevados, vai ser impossível “matar no peito”, ainda mais com o
relator da ação (Ministro Herman Benjamin) deixando claro que há indício e
provas de irregularidades na chapa eleita em 2014.
Por
esses motivos, o governo Temer se parece com uma montanha-russa. Parece estar
em ascensão, deixando a crise para trás e, de repente, já se vê mergulhando na
crise novamente. Resta saber se esse novo mergulho na crise será passageiro,
com um looping à frente ou será rumo ao chão, sem chances de voltar a subir.
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