quinta-feira, 9 de março de 2017

Bolsonaro: perigoso, mas ainda inviável


Logo após a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, houve um alvoroço em torno daquele que seria sua versão brasileira: o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ). Tido como outsider e potencial candidato à presidência em 2018, a possível vitória de Jair passou a ser alardeada e comemorada por uns e temida por outros. Fato amplificado pela última pesquisa CNT/MDA, que trouxe o deputado empatado na segunda colocação das intenções de voto, junto com Marina Silva e os tradicionais tucanos, com cerca de 12% dos votos. Mesmo com esses resultados, Bolsonaro ainda tem um longo caminho para tornar-se um candidato, de fato, viável.

O primeiro passo é ter um partido político, com força razoável e capilaridade nacional, para hospedar a candidatura. Jair ainda permanece no nanico PSC, que possui 10 deputados na Câmara. Aliás, Bolsonaro tem vivido às turras com o atual partido e já foi sondado para migrar ao PP ou PR, partidos maiores, porém atolados em escândalos de corrupção como o Mensalão e a Lava-Jato, o que dificultaria o apelo renovador do candidato. Aqui cabe a comparação com Trump, que era um outsider, porém filiado ao Partido Republicano, que desde o início da República vem se alternando com os Democratas no comando dos EUA.

Além de um partido político orgânico, Bolsonaro também precisa de estrutura para sua campanha. Apesar da crescente importância das redes sociais, não é possível (ainda) vencer uma eleição presidencial só com elas. Uma boa estratégia e equipe de Marketing para conduzir a campanha e construir uma coligação que garanta um tempo razoável de TV é fundamental para uma candidatura tornar-se competitiva. Trump, por exemplo, utilizou-se das variadas novidades na área do Marketing para vencer a eleição norte-americana (http://www.showmetech.com.br/big-data-trump/).

É necessário, ainda, ter uma boa assessoria em todas as áreas sensíveis, como Saúde, Educação, Economia, Segurança, Transportes, entre outras. A coligação candidatos a deputado, senador e governador na maior quantidade possível de estados e regiões interioranas. A falta dessa estrutura de campanha no interior do país foi apontada como fator determinante para Marina Silva ficar fora do segundo turno em 2014, mesmo após liderar a corrida presidencial.

Por último, e mais importante, Bolsonaro precisa construir uma plataforma econômica. No momento, o deputado apenas se destaca pelos discursos eloquentes e agressivos em relação ao “comunismo do PT”, “ativismo gay”, contrário aos direitos humanos e na defesa da ditadura militar. Esse discurso é capaz de sensibilizar o eleitorado de extrema-direita conservadora, que antes votava no PSDB for falta de opções e agora migra para Bolsonaro como mostrou a pesquisa CNT/MDA, porém não atinge o eleitor volúvel, que é o responsável por definir a eleição.

Por enquanto, Bolsonaro pouco se posiciona em relação a temas econômicos. Ano passado, chegou a divulgar vídeo dizendo que votaria contra a PEC do Teto de Gastos, porém voltou atrás um dia depois. Em uma entrevista, chegou a criticar os altos juros brasileiros e defender a renegociação da dívida externa (https://www.youtube.com/watch?v=ggIVYD4RZIk), ironicamente uma das principais pautas da esquerda brasileira. Para a eleição presidencial, porém, é necessário mais. O discurso econômico foi fundamental para Trump atrair o eleitor volúvel, descontente com a globalização.

Portanto, Jair Bolsonaro constitui-se uma alternativa para as eleições de 2018, partindo de um patamar acima de 10% nas intenções de voto. Não é de todo outsider, visto que exerce mandato de Deputado Federal há mais de 20 anos. Porém, se quiser repetir Donald Trump, tem um longo caminho a percorrer. Caso contrário, vai apenas tumultuar as eleições presidenciais e tirar votos de candidatos que poderiam ser competitivos em um segundo turno.

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