Um
tópico que sempre vem à tona nos debates sobre a atual sociedade
brasileira é a qualidade da educação. Pode-se dizer que há
consenso em torno dos seguintes pontos: formação precária dos
estudantes, mão-de-obra pouco qualificada e até aspectos mais
simples como a formação de um cidadão. A educação necessita de
reformas e é nesse ponto que acaba o consenso, havendo uma grande
dificuldade em se propor um projeto para superar essas dificuldades,
como foi evidenciado no debate em torno da reforma do Ensino Médio
aprovada no início deste ano. As soluções costumam se pautar em
maior aporte de recursos e muito pouco é discutido concretamente
como projeto. Pretendemos com este texto apresentar algumas direções
para um possível projeto, sem pretensão alguma de esgotar o tema ou
propor soluções finais.
Em
primeiro lugar, é importante entender os resultados do modelo
educacional atual, “conteudista” preparatório para vestibular e
rígido, na formação da nossa população. É de conhecimento geral
o mau desempenho de nossos alunos em avaliações internacionais de
educação como o PISA, o que demonstra uma incapacidade de
transmitir esses conhecimentos mesmo com uma carga curricular
extensa. Esse problema não se limita apenas às escolas públicas,
havendo uma sensação generalizada de falta de propósito do
conteúdo ensinado também entre alunos de escolas particulares. O
ensino básico é visto apenas como um meio de entrada no ensino
superior, ou seja, toda sua formação visa preparar o aluno para o
vestibular. São deixadas de lado questões como a formação do
cidadão e a transmissão de conhecimento básico e mais duradouro
que possa auxiliar o aluno a aprender novos conteúdos ao longo da
vida tendo uma base forte. Devido ao vestibular, as escolas são
julgadas inteiramente de acordo com essa métrica. Uma escola é de
bom nível se tem um grande índice de aprovação.
A
falta de um conhecimento de base forte pode ser visto de maneira
fácil na vida adulta: se o aluno dedicasse mais tempo em aprender
conceitos básicos da matemática, multiplicação, divisão, adição
e subtração, em vez de ver conceitos muito avançados como
polinômios de ordem elevada, este poderia na faculdade aprender mais
facilmente o conceito de cálculo. É notório nas provas de cálculo
que a maioria dos alunos erra mais conceitos de álgebra simples do
que a parte teórica do cálculo. Não é possível ensinar algo
avançado se esse não sabe o básico, a escola atropela a velocidade
do conhecimento. Tão ruim quanto isso é o fato de alguns alunos
nunca mais precisarem ver em suas vidas polinômios, tornando o tempo
gasto para “decorar” o conteúdo para ser aprovado um desperdício
de tempo, e esse tempo poderia ser utilizado para assuntos mais
relevantes e simples. Esse problema se permeia por todos os campos do
conhecimento: biologia, história, português, etc.
Também
é notável a baixa penetração do pensamento crítico e científico
mesmo entre alunos que têm mais recursos e maior carga horária, o
que se observa pela difusão de pseudociência e obscurantismo. Uma
grade curricular mais enxuta, com maior ênfase em habilidades
cruciais para a vida pessoal e profissional de qualquer cidadão,
como operações matemáticas básicas, interpretação de texto,
conhecimentos básicos de saúde e entendimento dos processos
históricos que resultaram na sociedade atual, pode aproximar a
educação do aluno e criar cidadãos mais preparados em vez de
“máquinas de vestibular”. O vestibular deveria ser focado na
capacidade de interpretação de texto e raciocínio lógico.
Diversos RHs no mundo e também no Brasil já perceberam que esse
antigo sistema é falho. Hoje, para participar dos melhores programas
de estágio e trainee não é necessário conhecimento específico, é
valorizado no candidato o potencial que ele pode atingir no futuro,
afinal cada empresa tem um modo de operação, e este vai ser
ensinado para o candidato após ele ser aprovado. Agora leia
novamente o trecho desde "RHs" e substitua a palavra “RH”
por “FUVEST”, “VUNESP”, etc, e “empresa” por
“universidade”; Você pode perceber que seria uma boa maneira de
reformular o vestibular.
Algumas
considerações podem ser tiradas deste texto: precisamos enxugar o
conteúdo a fim de aprimorar mais o aluno e capacitá-lo melhor, pois
o atual modelo está enxugando gelo. O sistema deve ser mudado em
vários níveis, e o vestibular deve ser reformulado e priorizar
outro tipo de capacidade do estudante, e não sua memória pra
decorar conteúdo. A escola deve, antes de tudo, formar um cidadão
crítico e conhecedor da sociedade onde vive e fornecê-lo
ferramentas para que possa adquirir conhecimento de maneira mais
fácil e rápida.
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