segunda-feira, 13 de março de 2017

Nossa educação foi reprovada

Um tópico que sempre vem à tona nos debates sobre a atual sociedade brasileira é a qualidade da educação. Pode-se dizer que há consenso em torno dos seguintes pontos: formação precária dos estudantes, mão-de-obra pouco qualificada e até aspectos mais simples como a formação de um cidadão. A educação necessita de reformas e é nesse ponto que acaba o consenso, havendo uma grande dificuldade em se propor um projeto para superar essas dificuldades, como foi evidenciado no debate em torno da reforma do Ensino Médio aprovada no início deste ano. As soluções costumam se pautar em maior aporte de recursos e muito pouco é discutido concretamente como projeto. Pretendemos com este texto apresentar algumas direções para um possível projeto, sem pretensão alguma de esgotar o tema ou propor soluções finais.

Em primeiro lugar, é importante entender os resultados do modelo educacional atual, “conteudista” preparatório para vestibular e rígido, na formação da nossa população. É de conhecimento geral o mau desempenho de nossos alunos em avaliações internacionais de educação como o PISA, o que demonstra uma incapacidade de transmitir esses conhecimentos mesmo com uma carga curricular extensa. Esse problema não se limita apenas às escolas públicas, havendo uma sensação generalizada de falta de propósito do conteúdo ensinado também entre alunos de escolas particulares. O ensino básico é visto apenas como um meio de entrada no ensino superior, ou seja, toda sua formação visa preparar o aluno para o vestibular. São deixadas de lado questões como a formação do cidadão e a transmissão de conhecimento básico e mais duradouro que possa auxiliar o aluno a aprender novos conteúdos ao longo da vida tendo uma base forte. Devido ao vestibular, as escolas são julgadas inteiramente de acordo com essa métrica. Uma escola é de bom nível se tem um grande índice de aprovação.

A falta de um conhecimento de base forte pode ser visto de maneira fácil na vida adulta: se o aluno dedicasse mais tempo em aprender conceitos básicos da matemática, multiplicação, divisão, adição e subtração, em vez de ver conceitos muito avançados como polinômios de ordem elevada, este poderia na faculdade aprender mais facilmente o conceito de cálculo. É notório nas provas de cálculo que a maioria dos alunos erra mais conceitos de álgebra simples do que a parte teórica do cálculo. Não é possível ensinar algo avançado se esse não sabe o básico, a escola atropela a velocidade do conhecimento. Tão ruim quanto isso é o fato de alguns alunos nunca mais precisarem ver em suas vidas polinômios, tornando o tempo gasto para “decorar” o conteúdo para ser aprovado um desperdício de tempo, e esse tempo poderia ser utilizado para assuntos mais relevantes e simples. Esse problema se permeia por todos os campos do conhecimento: biologia, história, português, etc.

Também é notável a baixa penetração do pensamento crítico e científico mesmo entre alunos que têm mais recursos e maior carga horária, o que se observa pela difusão de pseudociência e obscurantismo. Uma grade curricular mais enxuta, com maior ênfase em habilidades cruciais para a vida pessoal e profissional de qualquer cidadão, como operações matemáticas básicas, interpretação de texto, conhecimentos básicos de saúde e entendimento dos processos históricos que resultaram na sociedade atual, pode aproximar a educação do aluno e criar cidadãos mais preparados em vez de “máquinas de vestibular”. O vestibular deveria ser focado na capacidade de interpretação de texto e raciocínio lógico. Diversos RHs no mundo e também no Brasil já perceberam que esse antigo sistema é falho. Hoje, para participar dos melhores programas de estágio e trainee não é necessário conhecimento específico, é valorizado no candidato o potencial que ele pode atingir no futuro, afinal cada empresa tem um modo de operação, e este vai ser ensinado para o candidato após ele ser aprovado. Agora leia novamente o trecho desde "RHs" e substitua a palavra “RH” por “FUVEST”, “VUNESP”, etc, e “empresa” por “universidade”; Você pode perceber que seria uma boa maneira de reformular o vestibular.

Algumas considerações podem ser tiradas deste texto: precisamos enxugar o conteúdo a fim de aprimorar mais o aluno e capacitá-lo melhor, pois o atual modelo está enxugando gelo. O sistema deve ser mudado em vários níveis, e o vestibular deve ser reformulado e priorizar outro tipo de capacidade do estudante, e não sua memória pra decorar conteúdo. A escola deve, antes de tudo, formar um cidadão crítico e conhecedor da sociedade onde vive e fornecê-lo ferramentas para que possa adquirir conhecimento de maneira mais fácil e rápida.

Texto por Carlos Henrique Machado Simão e Tomás Pereira Machado

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