No mesmo ano, Luiz Inácio Lula da Silva vencia a eleição
presidencial, após três derrotas. Assumiu o governo com o desafio de gerar
empregos e reduzir a fome e a miséria. Em seus 8 anos de governo, até 2010,
conseguiu fazer as duas coisas. Encerrou seus mandatos com mais de 80% de
popularidade e, de quebra, elegeu sua sucessora, a novata em eleições Dilma
Rousseff, batendo o experientíssimo tucano José Serra.
Após a conquista do penta, Felipão deixou a Seleção
Brasileira. Teve boa passagem pela seleção portuguesa, que dirigiu por 5 anos.
Lá foi vice-campeão da Eurocopa 2004 e terceiro colocado na Copa da Alemanha em
2006. Após essa passagem, teve um período no Chelsea-ING, onde foi defenestrado
pelos medalhões e no Azerbaijão. Acabou voltando ao Palmeiras, onde havia
vencido a Libertadores de 1999, em 2010. No retorno, uma passagem com altos e
baixos, que resultou em um improvável título da Copa do Brasil e um melancólico
rebaixamento à Série B do Brasileirão, ambos em 2012.
Lula, após passar o governo para Dilma, passou a
priorizar o seu Instituto e o fortalecimento do PT. Surfando na boa
popularidade que tinha, junto com a alta popularidade de Dilma, viu o PT obter
bons resultados nas eleições de 2012, inclusive com a eleição de mais um poste,
Fernando Haddad, para a prefeitura de São Paulo. Ao mesmo tempo, aumentava sua
presença internacional e era uma ponte com governos de países latino-americanos
e africanos para a realização de obras, nestes países, por empreiteiras
brasileiras financiadas pelo BNDES.
Felipão deixou o Palmeiras um pouco antes do
rebaixamento, em 2012. Observadores já identificavam sinais de que o treinador
estava ficando ultrapassado. Porém, o clamor popular o levou de volta à
Seleção. Após as passagens malsucedidas de Dunga e Mano Menezes, Scolari era
visto como o técnico capaz de “arrumar a Seleção” e conquistas o hexa, dessa
vez dentro de casa, na Copa de 2014.
2014 também foi ano marcante para Lula. Em março daquele
ano, começava a Operação Lava-Jato. Quase três anos depois, Lula é réu em 5
ações relacionadas à Operação e viu parte de sua popularidade corroer por conta
das denúncias. Também naquele ano, nas eleições gerais, o desempenho de candidatos
apoiados por Lula foi ruim. Alexandre Padilha, candidato ao governo de São
Paulo, ficou em terceiro lugar. Dilma Rousseff foi reeleita, no segundo turno
contra Aécio Neves, por uma ínfima diferença de votos. Era o início do calvário
petista.
Ele seria pior em 2015. No segundo mandato, Dilma optou
por conduzir um duro ajuste fiscal, após o aumento do gasto fiscal no primeiro
mandato. Porém, no discurso de campanha, Dilma rechaçava o ajuste, o que acabou
constituindo um estelionato eleitoral, que derrubou sua popularidade,
culminando no seu impeachment, em maio de 2016. Em seu lugar, assumiu Michel
Temer, que deu sequência ao ajuste, optando por um programa de reformas
(fiscal, previdenciária e trabalhista), que visam recuperar as contas púbicas do
país num horizonte de longo-prazo.
Aqui confundem-se as histórias de Lula e Felipão. Com o
desemprego em alta, longe de uma retomada e com indícios fracos de crescimento
da economia, a popularidade de Temer está arruinada. Ao mesmo tempo, Lula
aparece liderando as pesquisas de intenção de voto para 2018, mesmo com todas
as denúncias que enfrenta na Justiça.
O PT vê em Lula a possibilidade de salvação da legenda, a
partir da retomada do governo federal. A população vê em Lula a capacidade de
trazer os empregos e o crescimento econômico de volta, ignorando as
circunstâncias e conjunturas diferentes da atualidade para 2002. O bom
desempenho da economia foi possível graças a um excelente cenário externo, que
fez aumentar o preço das commodities brasileiras. Com isso, o governo pode, ao
mesmo tempo, fazer altos superávits primários e aumentar os investimentos
públicos, sobretudo através de programas sociais. Associado à maior facilidade
de acesso ao crédito e aumento real do salário mínimo, a sensação de bem-estar
era geral.
Já na atualidade, o cenário é distinto. O crescimento
mundial é bastante moderado, não havendo um novo “boom das commodities” no
horizonte. A trajetória da dívida pública é ascendente, havendo pouquíssimo
espaço para o aumento do gasto público, inclusive devido ao novo regime fiscal,
que impõe um teto aos gastos públicos. Ao mesmo tempo, o endividamento das
famílias está alto, sendo quase inviável uma retomada do crescimento econômico
pela via do consumo.
Caso esteja apto a disputar a eleição em 2018 e seja
eleito, Lula estará diante de uma encruzilhada: ou dá continuidade ao programa
de ajuste da economia, sendo possível pequenas alterações ou utiliza um novo
programa, focado na geração de empregos com aumento dos gastos públicos. Se
escolher o primeiro, Lula estará contrariando seu eleitorado, podendo ocasionar
um cenário semelhante ao de 2015, repetindo a impopularidade e vendo aumentar a
pressão pela sua saída ou renúncia.
Se optar pelo segundo, Lula pode colocar em xeque a
estabilidade do país. O abandono da responsabilidade fiscal e a adoção de
medidas, como o uso de reservas cambiais para financiar obras, podem aumentar
ainda mais o Risco Brasil. Com isso, haveria uma disparada do dólar, perda de
investimentos estrangeiros e deterioração das contas públicas aliada a um maior
endividamento das famílias. Seria fazer como Felipão, que escalou Bernard, Fred
e Hulk para enfrentar o forte meio-campo da Alemanha.
Felipão, já desgastado e sem a mesma qualidade técnica de
jogadores, não repetiu o sucesso de 2002. Lula, também desgastado e sem as
mesmas condições de seus dois primeiros governos, tem tudo para não ser
bem-sucedido em um eventual retorno à Presidência. O resultado dessa volta pode
ser um novo 7 x 1, dessa vez com consequências piores do que a simples perda de
uma Copa do Mundo.
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