quarta-feira, 8 de março de 2017

O dia Internacional da mulher é hoje. Todos os outros 364 são dos homens - sem mérito algum.

Era preciso, em um dia 8 de março, falar sobre todas nós. NÓS. As que falam e calam por direito, mas, sobretudo, as que são caladas por deveres impostos por uma cultura machista e cruel. As que ocupam os espaços apertados que nos restam nos debates, mas, acima de qualquer circunstância, as que não têm qualquer que seja um espaço: em sua profissão, sua vocação, sua visão e seus direitos. Essas mesmas, as que vão de feministas extremas a pessoas que, não se sabe se por opção ou não, se rotulam como tradicionais (e o que é ser tradicional em um mundo tão plural?).
É preciso entender que há uma evolução, mas é lenta. Mulheres hoje em dia podem trabalhar, mas têm seus salários menores que os homens (sendo que esses não têm mais o título de provedores das casas), são tantas vezes assediadas por superiores (sexualmente e quando nos inferiorizam e nos constrangem em relação a nossa capacidade), fora a jornada dupla em uma casa que os homens também sujam e tripla com filhos que os homens também são pais – fora, claro, aquela velha visão de que os parceiros estão “ajudando” a mulher e não meramente fazendo sua parte (e tantas vezes nem 10% de sua parte), sem necessidade alguma de serem vangloriados por continuar não cumprindo nem com a própria obrigação na maioria das vezes. E não falamos sobre violência doméstica ainda. Mas quem nunca ouviu que “mulher de malandro “gosta” de apanhar”?
As mulheres possuem certa liberdade sexual, mas ainda são vistas com os mesmos olhos ruins de 100 anos atrás. Os homens são criados para “namorar” todas e elas para sofrer assédio de 99% deles, e se forem diferentes disso, já são aquela velha palavrinha que você já sabe o que é. Até que as cabras possam ficar tranquilas, pois o bode tem o mínimo de educação e respeito, o ditado popular “segurem suas cabras, que meu bode está solto” ainda é uma realidade horrível. E aaaaai do pai que resolver soltar as cabras, porque ela é um ser racional e capaz de escolher o que pode fazer da sua vida e seu corpo, e ela será taxada daquela velha palavrinha: “P-U-T-A”. Quando se é criança ou pré-adolescente isso é um problema em potencial. Logo após, é quase que banal e que não consegue atingir. Se você está com um short a 40°C, você é PUTA, mas o cara está “ok” sem camisa. Se você faz o que quer da sua vida, também. E se você dirigir desatenta (como qualquer homem – que inclusive tem estatísticas muito piores no trânsito), idem. Qualquer coisa que você faça que desagrade ou incomode qualquer pessoa, você será um enorme alvo disso (de mulheres também, tantas vezes mais machistas).
A visão de mulher como subalterna do homem vai além de uma relação de casal. As mulheres são objetificadas, sendo vistas como um produto para consumo. Empresas vêm se destacando (e faz parte da evolução que seja negativamente) por utilizar os corpos femininos para vender absolutamente qualquer coisa – até móveis. E no Brasil os valores encontram-se tão embaralhados que tudo bem se uma mulher está nua na Sapucaí para os olhos “famintos”, mas uma mãe não pode amamentar seu filho em um local público (e discute-se sempre multar uma mulher que alimenta um bebê.)
Nos cargos governamentais, é gritante. Há quem diga que as mulheres “não servem” para governar – sem contar que somos feitas da mesma carne até na bíblia (um artefato polêmico e tantas usado para disseminar o machismo). Há quem ultrapasse as barreiras e coloque o adjetivo “PUTA” até nesse parágrafo. Eu sei que você se lembrou dela, e pode achar a vontade que Dilma tenha sido uma má governante, mas isso não tem nada a ver com chama-la de puta e com um impeachment carregado de machismo e misoginia.
Falando em política, uma polêmica matéria do ano passado coloca que o Brasil tem menos mulheres na política que o Afeganistão, país com maioria islâmica, uma religião que é tradicional por inferiorizar a mulher absurdamente (como se as outras religiões não o fizessem de forma discreta e lavassem cérebros de que estão protegendo nossas meninas e mulheres...). Nas eleições de 2016 as candidaturas do Brasil eram um pouco mais de 30% femininas, sendo as mulheres 52, 21% do eleitorado. O numero de prefeitas eleitas nesse ano não chegou a 13% e vereadoras a 33%. Sabendo minimamente como os cargos são escolhidos em partidos, fica obvio a repressão que existe, mesmo exigindo uma representação mínima em cada um deles.
Em um cenário geral, não há espaço. Os homens (tantas vezes brancos e classe A) do Brasil não querem perder o espaço monopolizado desde sempre. Após o golpe (ou impeachment) que elegeu o primeiro ser que assume esse país com a ficha já suja de antemão, inelegível e sem noção, Temer simplesmente colocou um total de ZERO mulheres como ministras. Tentou “apaziguar” com secretarias que, quase que ironicamente aparecem como “subalternas” a ministérios. Ouvi de alguns a favor dessa bagunça que piorou o país, que esses eram os homens “competentes”, o que faz tanto sentido quanto quando culparam uma menina de 16 anos por ser estuprada por 20 homens, procuraram culpa na sua roupa, no local onde estava... qualquer coisa a culpar os estupradores, que são homens. Ou achar tudo bem dar poder a citados 20 e tantas vezes em delações, se são homens e mulheres não devem ter cargo de poder.

Enquanto não tivermos e ocuparmos os espaços, a velha piadinha deixa as risadas de lado e se torna real: o dia 8 de março é dia internacional da mulher. Os outros 364 dias permanecem sem título algum, sem causa social nenhuma e até mesmo sem contar no calendário, são dias dos homens. Feliz dia da mulher. Que sofre mesmo sem saber, mesmo sem enxergar. Que é reprimida por todos os lados. E que, nós sabemos, não ocupa certos espaços por não haver lugar para nós em uma sociedade modelada por e para homens em todos os meios de influência: desde a igreja até o congresso.

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